Noturno

(um amor de carnaval, uma saudosa Dublin)

Dia de St Patrick. Há um ano, ao padroeiro da Tasca, prometia uma festa maior e mais linda – mal sabia. Resilientes, na última semana, decoramos a sala e planejamos um cardápio típico, a ser curtido a dois (três, considerando uma dog peduncha).

O cenário não inspira qualquer comemoração – diariamente, e a cada dia de forma mais intensa, harmonizamos bile, com vinho tinto e chocolate amargo, enquanto tentamos engolir as tristes notícias e as infelizes colocações de quem deveria zelar pela população.

Ainda assim, vesti verde. Troquei a festa pelo início de um Ulysses – a literatura como âncora da sanidade. Na falta de coragem e condição para escrever palavra, deixo um frustrado Joyce (que não se sentia capaz de expressar pensamentos em poemas), lembrar e celebrar a sua terra.

“Lúgubres na penumbra, estrelas pálidas o archote
amortalhado ondeiam
Dos confins do céu, fogos-fantasmas alumbram
arcos sobre arcos que se alteiam,
nave pecadobreu da noite
Serafins,
As hostes sem norte despertam
para o serviço, até que tombem
na penumbra sem lua, mudas, turvas, ao fim,
assim que ela erga e vibre inquieta
o seu turíbulo
e alto, longo, á turva,
sobrelavada nave,
a estrela-sino tange, enquanto, calmas,
as espirais do incenso ascendem, nuvem sobre nuvem,
rumo-ao-vazio, do venerável
resíduo de almas” (James Joyce)

(Poema ‘roubado’ do Recanto do Poeta – https://recantodopoeta.com/james-joyce/)

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